Classificação Morfológica da Palavra que Acrescida de seus Valores Sintáticos
I
Substantivo
"Que" é substantivo todas as vezes que estiver precedido dum adjunto adnominal, quase sempre pelo artigo definido o, artigo indefinido um e pelos pronomes adjetivos demonstrativos este, esse e aquele:
"O quê é uma palavra mágica".
"Refiro-me àquele quê".
"quem escreveu este quê?"
"Nenhum quê cabe neste período".
Excetuando-se o vocativo e o agente da passiva, ocupa o quê todas as funções sintáticas do substantivo, ou seja, adjunto adnominal, sujeito, complemento nominal, objeto direto, objeto indireto, adjunto adverbial, predicativo e aposto. Exemplos:
"Do quê só uma vogal é pronunciada".(adjunto adnominal de - vogal).
"Este quê está mal escrito". (sujeito).
"Em se tratando de substantivo, o acento circunflexo é necessário ao quê". (complemento nominal de - necessário).
"Eu não escrevi este quê". (objetivo direto).
"Para que não haja ambiguidade, esta oração necessita de um quê". (objeto indireto).
"Minha dúvida reside naquele quê". (adjunto adverbial de lugar: onde).
Este vocábulo é um quê". (predicativo).
"Esta palavra, o quê, está sem função no período". (aposto)
O quê, além de sua significação própria, isto é, de significar a junção das letras q, u e e pode ser empregado com o sentido de causa, pouco, qualquer coisa ou complicação:
“Um quê misterioso aqui me fala”. (G. Dias).
“Você tem um quê de fulano”.
“Tens um quê de extraordinário”.
“O latim tem seus quês”.
NOTAS:
1ª – Obrigatória é a acentuação da palavra que,
quando, substantivo. É comum acentuarem-na quando exerce outras
funções, principalmente aparecendo no fim do período. Como já dissemos
na primeira parte deste trabalho, desnecessário e supérfluo
afigura-se-nos esse excesso de zelo diacrítico porque a única função sua
merecedora dum maior realce, duma pronúncia mais demorada, é a de
substantivo. Rendemo-nos, porém, ao estabelecido.
2ª – Elegantemente é o quê flexionado em número e em grau diminutivo:
“O negócio tem seus quês”. (F> Fernandes).
“Fiz um quezinho que era quase invisível”.
II
Preposição Essencial
Funciona a palavra que, como preposição essencial, toda
vez que, relacionando duas palavras entre si, puder ser substituída pela
“de”. Acontece isto nas construções que denotam obrigatoriedade
(auxiliar ter + de + infinitivo pessoal). Exemplos:
“Tenho que terminar este serviço hoje”. (F. Fernandes).
“Tenho que dizer-vos do que obrastes?”. (F. Manuel de Melo).
“Não teve que andar muito”. (Júlio Ribeiro).
“...revelará o desencanto de quem quebrou a redoma e teve que voltar à terra?” (A. Serralvo Sobrinho).
Segundo
alguns autores, pode, em lugar da preposição “para”, funcionar a “que”.
Todavia, é necessário dizer que essa substituição possibilita
argumentos para controvérsias. No exemplo: “Muito tenho eu que fazer” –
há quem afirme ser a palavra que preposição, empregada com o valor de “para” e encontramos também quem afirme ser o vocábulo que pronome
relativo. Razões existem nas duas assertivas, basta que ambas sejam
estudadas com “bastante atenção”. Na primeira temos: “Tu tens muito que
contar” (=para contar), na segunda: “Tenho muita coisa que fazer”, sendo
coisa objeto direto de tenho e que, pronome relativo, objeto direto de fazer.
Conquanto
sejam tais construções corretas, temos nós de para uma ou outra
interpretação pender? Não é o Latim uma língua cujas construções levam
seus membros rigidamente fora da ordem analítica? Não é o Português
filho dileto do Latim? Então comum é, no idioma pátrio, estarem
deslocados na oração vocábulos que, na ordem direta, viriam juntos.
Comum é o intercalar-se em lugar do antecedente (subordinante),
vocábulos que nada tem a ver como o consequente (subordinado). Ora, é
normal tais deslocamentos. Nas construções – “Tu tens muito que contar” e
“Tenho muita coisa que fazer” – os antecedentes tens e tenho e os consequentes contar e fazer não
estão juntos à preposição “que”, cujo valor é “de” mas nem por isso
deixamos de reconhecer qual é o antecedente e qual o consequente.
Evitando os torneios teremos: “Tu tens que contar muito” (=de contar
muito) – “Tenho que fazer muita coisa” (=de fazer muita coisa). Essas
construções denotam a mesma obrigatoriedade de futuro ao sujeito da oração
NOTAS:
1ª – Depois de um superlativo, pode-se empregar que em lugar de de : “Saúde é melhor que tudo na vida”.
2ª – Análise sintática da preposição essencial: conetivo intervocabular subordinativo essencial.
3ª
– São preposições essenciais: a, ante, após, até, com, contra, de,
desde, em, entre, para, per, por, perante, sem, sob, sobre, trás.
III
Preposição Acidental
Sabemos que “preposição” é o nome dado a certas palavras que têm por função ligar outras palavras entre si e que se classificam em essenciais e acidentais. Pois bem, que também pode aparecer nesta classificação.
Toda vez que que for empregado com o valor de exceto, funciona como – preposição acidental:
“Outro livro que a Bíblia”. (Buarque de Holanda).
“Sem outra sombra que a do camelo”. (Felinto, apud Cândido de figueiredo).
“Não tem de se extinguir, que no jazigo”. (Idem,Idem).
NOTAS:
1ª – a respeito desta função, mormente em referência aos exemplos de “Felinto”, útil se nos afigura anotarmos a advertência de Cândido de Figueiredo:
“Não obstante a autoridade de Felinto, parece-me haver ressaibo de francesismo em tal emprego de que. Compare-se a sintaxe francesa: IL N Y AVAIT DES FEMMES” (Novo Dicionário da Língua Portuguesa).
2ª – análise sintática da preposição acidental: conetivo intervocabular subordinativo acidental.
OBSERVAÇÃO:
São preposições acidentais- afora, como, conforme, consoante, durante, exceto, fora, mediante, menos, obstante, salvante, salvo, segundo e senão.
IV
Advérbio de Intensidade
Todas as vezes que a palavra que estiver junto a um verbo, a um adjetivo ou a um outro advérbio, exprimindo-lhes uma circunstância, é advérbio de intensidade.
Quando exprimir uma circunstância a um adjetivo ou advérbio, corresponde a “quão”.
“Mas que lindo está o dia!”
“Que grosseiros são os afetos humanos para avaliar as finezas do amor divino!” (Vieira).
“Que maravilhoso caminho é este!” (Gérson Rodrigues).
“Oh! Que enganados andam os homens!” (Bernardes).
“Que belo é este espetáculo!” (C. Pereira)
“que bem falas”.
“Que cedo levanta você, Cristina!”
“Chi! Que belo! Vamos amanhã!” (França júnior).
Junto a um verbo equivale a muito ou pouco (V. explicação da função seguinte). Exemplos:
“Que importa, os inimigos perecerão”.
“Que interessa isto a você: Maria casou-se”.
NOTA:
Sintaticamente, classifica-se o advérbio de intensidade: adjunto adverbial de intensidade.
OBSERVAÇÃO:
1ª – São advérbios de intensidade: bastante, muito, pouco, mais, menos, quase, demais e assaz.
V
Advérbio de Negação
Vimos, na função anterior, que, aparecendo a palavra que junto a um verbo, adjetivo ou outro advérbio, alterando-lhes, intensificando-lhes a significação, é um advérbio de intensidade, pois bem, agora vamos ver o vocábulo que funciona também como advérbio de negação. Acontece isto nas frases, cujo verbo, comumente na 3ª pessoa, é precedido do advérbio que, equivalente a “não”, muito embora não se possa negar que também pode equivaler a pouco ou muito. N.J. Barroso Campinhos, em seu “Português 2º Ciclo”, página 117, aproveitando uma construção de José de Alencar, dá-nos o seguinte exemplo:
“Que importa! Peri vencerá...”
Raras são as frases em que o advérbio que possa equivaler a “não. Cinge-se esse valor somente nos casos semelhantes ao exemplo acima:
“Que interessa isso a você: Maria casou-se!”
“Que interessa agora, teu segredo já foi descoberto”.
NOTA
Análise sintática do advérbio de negação: adjunto adverbial de negação.
OBSERVAÇÃO:
1ª – São advérbios de negação: não, nunca, jamais, nada.
VI
Pronome Substantivo Indefinido
São pronomes substantivos indefinidos os que, estando em lugar de um nome substantivo, caracterizam-se pelo sentido vago e impreciso. Ao dizermos – Alguém quebrou o vidro da janela – não definimos quem foi o agente da ação verbal, apenas afirmamos a existência dum sujeito agente que é indefinido. Assim, pode o pronome substantivo indefinido exercer, também, a função de objeto, complemento, etc.
Isto posto, podemos afirmar que a palavra que é pronome substantivo indefinido quando precede o verbo nas frases exclamativas e encerra a existência duma coisa. Exemplos:
“Quem vejo! Esta é a cifra! triste glória!”. (Manuel da Costa).
“Que fizeste meu filho!”
É usual vir o pronome que precedido do artigo “o”.
“Paulo, o que escreveu você!”
“O que está acontecendo!”
Valores sintáticos do pronome substantivo indefinido:
SUJEITO
“Que aconteceu!”
“O que precisou ser feito para a sua vinda!”
OBJETO DIRETO
“Que me fez, meu Pai!”
“O que me indicaste!”
OBJETO INDIRETO
“De que necessitas para o teu aperfeiçoamento!”
“A que foi preciso se dedicar!”
PREDICATIVO
“Que serei eu até lá!”
“O que parecíamos depois daquela longa caminhada!”
ADJUNTO ADVERBIAL DE FIM
“Para que nos torturava!”
“Para que contratamos os ventos e as tempestades!” (Vieira).
ADJUNTO ADVERBIAL DE MEIO
“Com que se divertiam!”
“Com o que pretendem vencer o concurso!”
NOTAS:
1ª – Possuíssem os exemplos acima o ponto de interrogação (Que fizeste, meu filho? - etc.) o pronome que seria denominado pronome substantivo interrogativo, embora ainda continue a ser indefinido.
2ª – Conforme veremos nas funções seguintes, o pronome que, se tiver claro depois de si, em frases exclamativas, interrogativas, pron. Adj.int.
OBSERVAÇÃO:
1º - São pronomes substantivos indefinidos: quem, quem quer, cada, cada qual, cada um, qualquer um, alguém, ninguém, algo, tudo, nada, ontem – e os seguintes que também podem ser pronomes adjetivos indefinidos – nenhum, algum, outro, pouco, muito, todo, vários, tudo.
VII
Pronome Substantivo Interrogativo
QUE, pronome substantivo interrogativo, é o pronome substantivo nas frases interrogativas:
“Que fizestes, meu filho?”
“Que fiz eu para arrefecer a sua estima?” (Camilo).
“Pois que havemos de fazer no dia da ressurreição de Cristo?” (Vieira).
“Que vens anunciar-me ou que pretende de mim?” (Herculano).
Comum é hoje o emprego da formam interrogativa o que. No estudo histórico da língua portuguesa, vemos que, a princípio, era estranha na linguagem erudita, depois, para se evitar a dubiedade de sentido, foi ela adotada nas interrogativas indiretas, o que veio dar maior entonação à frase. Criado esse novo expediente ao interrogativo “que”, estavam abertas as portas do idioma para o seu emprego também no início da oração. Exemplos:
“Fazer o quê?” (A.F. Castilho).
“Dizes o que?” (Said Ali).
“O que vai por esta alma, ó rei?” (Garrett).
“O que pretendes de mim?”
Sobre a questão escreve Eduardo Carlos Pereira:
“ O interrogativo – o quê?, embora condenado por ilustres gramáticos como Júlio Ribeiro, Dr. Augusto Freire e outros, tem sido modernamente autorizado por escritores de bom quilate, como A. Castilho, Garrett, A. Herculano, L. Coelho, Rabelo da Silva. Coincide com essas autoridades o uso popular”. (Gramática Expositiva, 119).
Funções sintáticas do pronome substantivo interrogativo
SUJEITO
“Que aconteceu?”
“O que se passa?”
OBJETO DIRETO
“Que desejas?”
“O que leva aí consigo?”
OBJETO INDIRETO
“De que necessitas para o teu aperfeiçoamento?”
“Em que consiste a felicidade?”
“Então, a que se dedica você atualmente?”
PREDICATIVO
“Que fui eu até hoje?” (M.Assis).
“O que será aquela criança quando crescer?”
COMPLEMENTO NOMINAL
“De que ele é perito?”
“Ele está ciente de quê?”
PREDICATIVO OBJETIVO
“Julgaram-no quê?”
“De que o chamou?”
ADJUNTO ADVERBIAL DE FIM
“Escreveste para quê?”
“Para que estudou gramática?”
ADJUNTO ADVERBIAL DE MEIO
“Divertiram-se com quê?”
“Com que fizeram a viagem?”
ADJUNTO ADVERBIAL DE CAUSA
“Por que vivem as hereges que convertem vossos cálices a usos profanos?” (Vieira).
“Os professores discutiam porquê?”
Encontradiças em bons escritores e largamente empregada pelo uso popular é a expressão idiomática “é que”, reforçativa do interrogativo “que”. Exemplos:
“Que é que você tem?” (M. de Assis).
“Que é que d. Glória vem fuxicar aqui, seu Ribeiro?” (Graciliano Ramos).
“Que é que você tem, homem de Deus?” (Castilho).
NB: Nas interrogativas acontece também vir o
verbo da expressão idiomática, por analogia, na forma do passado
perfeito do indicativo, quando aquilo que se quer saber se refere ao
passado:
"Que foi que Pedro fez?"
"O que foi que Maria lhe contou?"
NOTAS:
1ª – Inclui a Nomenclatura Gramatical Brasileira por que como advérbio interrogativo (ex.: “Por que choras?”). De estranhar é essa classificação! Em construção, como a acima, o que se pretende saber? Não é a causa, o objeto, o motivo do choro? Indubitavelmente, é o que se quer saber. A palavra que, nessa frase, encerra algo indefinido e interrogativo. Ora, se encerra alguma coisa, algum fato, é uma palavra que faz as vezes dum nome substantivo e TODA PALAVRA QUE FAZ AS VEZES DUM NOME SUBSTANTIVO É – PRONOME SUBSTANTIVO. Sendo também interrogativo sua classificação deverá ser – pronome substantivo interrogativo.
Classifica-se “por que” (nas frases interrogativas) como advérbio interrogativo porque, sintaticamente, sua análise pode ser adjunto adverbial é confundir sintaxe com morfologia.
2ª – Embora não o seja na prática, pode a palavra que, desta função, ser denominada pronome substantivo indefinido interrogativo.
OBSERVAÇÃO:
1ª – São pronomes substantivos interrogativos: quem, qual, onde, quando, quanto.
VIII
Pronome Adjetivo Indefinido
QUE é pronome adjetivo indefinido quando, correspondendo, de certo modo, a “quanto”, “quanta”, “quantos”, “quantas”, perceber um substantivo e determiná-lo de modo vago, impreciso:
“Oh! Que aurora de porvir e que manhã!” (Álvares de Azevedo).
“Que bondade serena tem na doce expressão da face resignada!” (Olavo Bilac).
“Que beleza vejo!”
“Que saudades sinto?”
“Que inferno é ter cabedais!” (Castilho).
“Que pena... tão formosa e tão louçã!” (Judas Isgorogota).
“Com que calma obedece!” (Olavo Bilac).
“Mas, que sede! Uma sede desesperadora que lhe encortiça os lábios.” (Eça).
Também com o valor de quanto e flexões (e número indeterminado), graciosamente, emprega-se que de. Exemplos:
“Que de histórias me contou!” (N.J.B. Campinhos).
“Que de sonhos não se contam!” (Tobias Barreto).
NOTA:
Análise sintática do pronome adjetivo indefinido: adjunto adnominal (do substantivo a que se refere).
OBSERVAÇÃO:
1ª – São pronomes adjetivos indefinidos: algum, nenhum, qualquer, bastante, certo, cada, outro, pouco, vários, todo, tanto, menos, mais, diversos, diferentes, muito, tudo, qualquer.
IX
Pronome Adjetivo interrogativo
Todas as vezes que a palavra que estiver anteposta a um substantivo em frases interrogativas é ela um pronome adjetivo interrogativo. Exemplos:
“Que poetas eu conversei na minha infância?” (Camilo).
“Que horas deu o relógio?” (Rabelo da Silva).
“Que questão é? indagou Quaresma”. (Lima Barreto).
“Por que razão não vieste?”
“Mas, afinal que comboio é esse de tão má catadura?” (C. Fernandes Paiva).
“A que pessoa está apontando?”
“Em que ônibus viajaremos?”
“De que matéria é feito este tubo?
A expressão que de também pode figurar nas orações interrogativas:
“Que de histórias nos contou?”
“Que de autoridades veneráveis não põem a arte do patriotismo em fingir não crer nunca a verdade que malquista a jurar com ares sisudos na versão carimbada dos homens e das coisas?”(Rui Barbosa).
NOTA:
Análise sintática do pronome adjetivo interrogativo: adjunto adnominal (do substantivo a que se refere).
OBSERVAÇÃO:
1ª – São pronomes adjetivos interrogativos: qual e flexões, quanto e flexões.
X
Pronome Substantivo Relativo
QUE – pronome substantivo relativo – é a palavra que liga duas orações entre si (sendo a 2ª subordinada à 1ª) e se refere a um antecedente, pessoa ou coisa. Exemplos:
“E prorrompeu num chorar silencioso que apiedava pedras”. (Camilo).
“Não apagarás o nome que ilustrou um dia as cinzas que te confio”. (L. Coelho).
“Encontrei-me à grade de ferro que circunda a calçada”. (Graciliano Ramos).
“Os anjos, que ficavam da parte de Deus, desciam, e os que ficavam da parte de Jacó, subiam”. (Vieira).
“Isso poderá trazer certa apreensão aos que acreditam no bem e náo duvidam do mal”. (Edmundo Antunes).
Concordância
O relativo que, palavra invariável, exige o verbo na pessoa e número do antecedente:
“Nós, que éramos cativos e pobres, com a pobreza e mendigues, ficamos ricos”. (Vieira).
“Afeiçoado aos que me lastimam e aos que me escarnecem”. (Camilo).
OBSERVAÇÕES:
1ª – Quando após que vem um verbo de ligação (ser, estar, parecer, ficar, etc.) pode acontecer que não concorde com o sujeito e sim, por atração, com o predicativo:
“Nela (na fogueira), um toro de lenha, verde ainda, estalando em aflitos estalidos, dessorava a resina, que eram lágrimas, e nas crepitações, dava gemidos!” (Catulo da Paixão Cearense).
2ª – Quando o antecedente do relativo que for um vocativo referente a pessoa ou coisa, o verbo do relativo vai para a pessoa que tratamos:
“Ó tu que tens de humano o gesto e o peito.” (Camões).
“Homem santo que me curará, se quiser, auxilie-me.” (Souza da Silveira, apud Ernani Calbuci).
RELATIVO PREPOSICIONADO
Conforme suas funções sintáticas, é o relativo que precedido das preposições “por”, “a”, “em”, “com”, “para”, e “de:
“Entendes agora (o motivo) por que me calo, devendo falar?” (R. Silva).
“Certo lugar eminente a que fora promovido um seu amigo”. (Vieira).
“Abordoado ao clássico bastão em que se apóia”. (E. da Cunha).
“Abre-se a rocha, Marta sai na mesma juventude com que entrara”. (Graça Aranha).
“A cidade é o lugar para que deveis olhar”. (Vieira).
“As pessoas de que constava a casa e família”. (Vieira).
NOTA:
V. “em que”, conjunção sub. Concessiva, função XXIII, observação – função XIV, Alínea “C” – função XI, nota 1ª.
OMISSÃO DA PREPOSIÇÃO
Em certas construções é comum omitir-se a preposição em:
“No dia que (em que) você receber o diploma, grande festa faremos”.
“Nesta hora que (em que) estamos todos juntos, aproveitemo-la para rezar o terço”.
DESDOBRAMENTO
É o relativo que conversível em “o qual”, “a qual”, “os quais” e “as quais”. Mesmo sendo estas formas muito usadas, aconselha-se não abusar de seus empregos:
“Ao apear da liteira que (a qual) os esbirros atalaiavam”. (Camilo).
“Eu vi os atores que (os quais) chegaram de Portugal”.
“Já conheço a história a que (à qual) você se refere”.
OBSERVAÇÃO:
Sempre que se tiver dúvida a respeito da função do relativo que, basta substituí-lo, mentalmente, pelas formas – o qual, a qual, os quais e as quais, acrescidas, isto é, repetindo-se, após essas formas, o nome antecedente. Ex.: “As alunas que estudavam, com atenção, sempre obtinham notas altas”. Tirando-se a dúvida: “As meninas, as quais meninas estudavam, com atenção, sempre obtinham notas altas”. Feita a substituição, sem prejuízo à clareza e à significação do período, não há motivo de persistir a dúvida.
NECESSIDADE DO EMPREGO DE O QUAL E FLEXÕES
Quando houver necessidade de ser dada maior clareza ao período ou quando o relativo que vier distanciado de seu antecedente, usa-se a forma o qual e flexões:
“O livro de histórias e aventuras, o qual me enviastes, li-o hoje”. (M. Leite e U. Cintra, Gram. Da L. Portuguesa).
“Uma herança honrada de avós, a qual era preciso salvar”.
Referindo-se a este último exemplo, comenta o eminente gramático – Napoleão Mendes de Almeida:
“Se nessa oração o autor tivesse empregado que, o sentido teria ficado prejudicado, pois não saberíamos se o pronome que estaria substituindo o antecedente herança ou avós; o emprego de o qual esclarece o antecedente”. (Gram. Metódica da L. Portuguesa, 182).
OMISSÃO DO ANTECEDENTE
Não raros são os casos em que o antecedente é omitido:
“Não tenho com que me alimentar”. (= coisa alguma com que...) (E. Carlos Pereira).
“Não sei de que falas”. (= não sei o assunto de que...)
“Dinheiro não aceitavam de esmola porque não achavam que comprar com ele”. (=achavam o que comprar...) (L. de Souza).
“Ao menos aí há que comer e que beber”. (= coisas que comer e coisas que beber). (Júlio Brandão)
OBSERVÇÕES:
1ª – No terceiro exemplo acima, o que equivale a a coisa que ou aquilo que. Nalgum outro exemplo, poderá equivaler também a aquele que. No plural, os que equivale a aqueles que; a que e as que, a aquela que e aquelas que. (V. função XI, nota 1ª). Exemplos.
“Então, o que mentiu não era filho de meu Pai?” (Castilho).
“Não são os que lavram os campos, nem os que aram os mares”. (Vieira).
“ÀS vezes, a forma lógica e normal se despreza para aceitar a que o uso determina”. (David José Perez).
“Expressões indubitavelmente muito mais bem feitas do que as que eles manipularam.”(M. Barreto).
2ª – Necessário se faz disitinguir o que (demonstrativo + relativo) de que (expressão equivalente a “isto”ou “isso”) e de o que (Pronome interrogativo ou indefinido). Confrontem-se as funções XI, VI, VII, VIII e IX com esta de algarismo X.
3ª – Permite a língua o intercalar-se do pronome substantivo o entre a preposição e o relativo que. Exemplo: “Não sei do que se trata.” Por - “Não sei o de que se trata.”(E. C. Pereira). Análise das palavras em questão é: o – objetivo direto de sei; de que – objeto indireto de trata.
VALOR EXPLETIVO
Vernáculo e de bom gosto poder ser considerado o emprego do relativo que com valor expletivo: “Ele que só pedia sobre a terra silêncio, paz e amor!”(Castro Alves).
“Que suplício que foi o jantar”. (M. de Assis).
“Que tolo que sou”.
“Quase que me envaideço com seus elogios”.
OBSERVAÇÕES:
1ª – Toda palavra expletiva, isto é, que não possua função lógica na frase, pode ser retirada sem prejuízo do sentido: “Quase que enlouqueço”= “Quase enlouqueço”.
2ª – Na análise sintática, a palavra expletiva pode ser denominada: palavra de realce ou denotativa.
FALSO PRONOME ADJETIVO REALATIVO
Dão ao relativo que alguns autores, se bem que em pequeníssima minoria, o valor de pronome adjetivo relativo (por exemplo, na frase: “Ignoramos que razões apresentou”.) Carlos Góis refuta esse valor e com ele devemos ficar nós outros.
Quando o antecedente do relativo vem indeterminado, costuma pospor-se ao relativo, assumindo este, aparentemente, o caráter de pron. Adj. Relativo. Exemplos: “E (os reis) descobrindo os mares inimigos do quieto descanso, pretenderam de saber que fim tinham”. (Camões) – “pretenderam de saber o fim que ( os mares) tinham”. Compare-se “O rei que já sabia a gente que era”. (Camões) = “O rei que já sabia que gente era”. – “Não sei por que fiz isso”. – “Não sei a razão por que fiz isso”. (Mét. De Análise, 26).
DESLOCAÇÃO IDIOMÁTICA
Assim como permite a língua a intercalação dalgum pronome entre a preposição regente e o relativo que, assim também permite que este apareça, muito embora em raros casos, deslocado dos termos regente e regido: “Damião e Píteas, discípulos que foram do grande Pitágoras, abalizaram-se tanto na amizade...” por – “Damião e Píteas que foram discípulos...”(Ed. Carlos Pereira, Gram. Expositiva, 264).
“Os grevistas reiniciaram hoje os estudos da proposta patronal, interrompidos que estavam há vários dias”. – por – que estavam interrompidos...
TERMOS IMPLÍCITOS DE QUEM
Estão implícitos no relativo quem o antecedente (a pessoa, aquele, ou o) e o relativo, propriamente dito, que. Desta forma, para efeito de análise deve ser desdobrado em seus respectivos correspondentes:
“Quem dá aos pobres, empresta a deus”. = “Aquele que dá aos pobres, empresta a Deus”. - “Quem quer vai”. = “Aquele que quer vai”. – Lembra, todavia, e muito bem, o ilustre Prof. E. C. Pereira que, toda vez que a regência não exigir o antecedente, é preferível tornar-se essa palavra como mero conjuntivo e considerar-se substantiva a oração, que, de outra sorte, seria oração adjetiva; assim, nas frases: “Não tenho quem me socorra”. - “Não sei quem está aí”. (Gram. Expositiva, 289). (V. análise nº 15).
Observação – Somente nos casos de vir quem preposicionado é que pode ter antecedente expresso: “Senhor general, o soldado de quem lhe falei, aqui está”.
NOTAS:
1ª – A palavra como é pronome relativo quando equivale a por que e vem geralmente precedida de o modo:
“Pelo modo como se apresentou, parecia querer brigar”.
2ª – Quando é pronome relativo se possui antecedente expresso e equivale a em que:
"Na hora quando lhe falei, parecia zangado."
3 – Quanto é pronome relativo, equivalente a que, quando antecedido de tudo, todo ou o:
“Tudo quanto sei é isto que já ouviste.”
4 – É de mau gosto a repetição do relativo. Em lugar de: “Era uma jovem que tinha os cabelos louros e que era linda como a paisagem que a cercava”. – Diga-se - “Era uma jovem que tinha os cabelos louros e era linda como a paisagem que a cercava.” (Consulte-se Enéias Martins de barros, curso de Português, 122 e 124.)
FUNÇÕES SINTÁTICAS
QUE – pronome substantivo relativo - na análise sintática, é duplamente analisado: primeiro como conetivo interoracional subordinativo, segundo como sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo ou adjuntos adverbiais. Exemplos:
“Este reflexo que começara à esquerda, propagou-se logo à extrema direita”. (E. da Cunha). = Sujeito do verbo começara.
“Que a calúnia propale o que ele nunca disse”. (Camilo). = Objeto direto do verbo disse.
“Os néscios decidem do que (o de que) não conhecem”. (A. de Azevedo). = Objeto indireto do verbo conhecem.
“O espetáculo a que ontem assistimos, agradou - nos bastante”. = Objeto indireto do verbo assistimos.
“O que sou, fica entre o céu e a minha consciência”. (R. da Silva). = Predicativo.
“O veículo por que foi atropelado, já está apreendido”. = Agente da passiva.
“No momento em que Paulo chegou, eu percebi tudo”. = Adj. Adverbial de tempo.
“A estrada, a que entraremos, será melhor”. = Adj. Adverbial de lugar donde.
“A estrada de que saímos, foi-nos adversa”. = Adj. Adverbial de lugar aonde.
“A casa, em que moramos, parece com esta”. = Adj. Adverbial de lugar onde.
“Aquela é a estrada por que devo passar”. = Adjunto adverbial de lugar por onde.
“O folheto precioso com que o Sr. Eduardo Prado acaba de enriquecer a literatura brasileira”. (Rui). = Adjunto adverbial de meio.
“Lembra-se de nossas festas em que eu figurava de rei?” (M. de Assis). = Adjunto adverbial de tempo.
“Os portentos de que esta força é capaz, ninguém os calcula”. (Rui). = Complemento nominal.
OBSERVAÇÃO:
Comumente com que é adjunto adverbial. Há, porém, de ser considerada a regência verbal para se analisar, ao certo, a palavra que regida pela preposição com. No exemplo – “Aquela é a pessoa com que não me agraço” – além de conetivo, sua função primeira, é que objeto indireto.
EMPREGO ERRÔNEO
Em expressões como esta: “A pessoa a quem me refiro é aquela que o filho quebrou a perna, defronte nossa casa” – dá-se a troca de cujo por que. Tal permuta, errônea, aliás, deve ser evitada, pois cujo não ligando termos idênticos (antecedente e consequente), é sempre adjetivo e se refere ao substantivo de que é seguido; já o pronome que liga termos idênticos, sendo, por conseguinte, o representante do segundo.
Outros exemplos dessa espécie de solecismo em que o pronome substantivo relativo que vem empregado no lugar do pronome adjetivo cujo: “A árvore, que as flores eram bonitas, o servidor da prefeitura cortou-a”. - “Queimaremos os livros que o teor seja subversivo”.
OBSERVAÇÕES:
1 – V. funções IX, XI. “Fazer com que”. – na 1ª parte.
2 – São pronomes substantivos relativos: o qual e flexões, onde (o lugar em que, no lugar em que), quem ( a pessoa que, aquele que, o que), quando (em que), como (por que), quando (que).
3 – Comparem-se os pronomes substantivos relativos com as conjunções subordinativas integrantes.
“Tudo quanto sei é isto que já ouviste.”
4 – É de mau gosto a repetição do relativo. Em lugar de: “Era uma jovem que tinha os cabelos louros e que era linda como a paisagem que a cercava”. – Diga-se - “Era uma jovem que tinha os cabelos louros e era linda como a paisagem que a cercava.” (Consulte-se Enéias Martins de barros, curso de Português, 122 e 124.)
FUNÇÕES SINTÁTICAS
QUE – pronome substantivo relativo - na análise sintática, é duplamente analisado: primeiro como conetivo interoracional subordinativo, segundo como sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo ou adjuntos adverbiais. Exemplos:
“Este reflexo que começara à esquerda, propagou-se logo à extrema direita”. (E. da Cunha). = Sujeito do verbo começara.
“Que a calúnia propale o que ele nunca disse”. (Camilo). = Objeto direto do verbo disse.
“Os néscios decidem do que (o de que) não conhecem”. (A. de Azevedo). = Objeto indireto do verbo conhecem.
“O espetáculo a que ontem assistimos, agradou - nos bastante”. = Objeto indireto do verbo assistimos.
“O que sou, fica entre o céu e a minha consciência”. (R. da Silva). = Predicativo.
“O veículo por que foi atropelado, já está apreendido”. = Agente da passiva.
“No momento em que Paulo chegou, eu percebi tudo”. = Adj. Adverbial de tempo.
“A estrada, a que entraremos, será melhor”. = Adj. Adverbial de lugar donde.
“A estrada de que saímos, foi-nos adversa”. = Adj. Adverbial de lugar aonde.
“A casa, em que moramos, parece com esta”. = Adj. Adverbial de lugar onde.
“Aquela é a estrada por que devo passar”. = Adjunto adverbial de lugar por onde.
“O folheto precioso com que o Sr. Eduardo Prado acaba de enriquecer a literatura brasileira”. (Rui). = Adjunto adverbial de meio.
“Lembra-se de nossas festas em que eu figurava de rei?” (M. de Assis). = Adjunto adverbial de tempo.
“Os portentos de que esta força é capaz, ninguém os calcula”. (Rui). = Complemento nominal.
OBSERVAÇÃO:
Comumente com que é adjunto adverbial. Há, porém, de ser considerada a regência verbal para se analisar, ao certo, a palavra que regida pela preposição com. No exemplo – “Aquela é a pessoa com que não me agraço” – além de conetivo, sua função primeira, é que objeto indireto.
EMPREGO ERRÔNEO
Em expressões como esta: “A pessoa a quem me refiro é aquela que o filho quebrou a perna, defronte nossa casa” – dá-se a troca de cujo por que. Tal permuta, errônea, aliás, deve ser evitada, pois cujo não ligando termos idênticos (antecedente e consequente), é sempre adjetivo e se refere ao substantivo de que é seguido; já o pronome que liga termos idênticos, sendo, por conseguinte, o representante do segundo.
Outros exemplos dessa espécie de solecismo em que o pronome substantivo relativo que vem empregado no lugar do pronome adjetivo cujo: “A árvore, que as flores eram bonitas, o servidor da prefeitura cortou-a”. - “Queimaremos os livros que o teor seja subversivo”.
OBSERVAÇÕES:
1 – V. funções IX, XI. “Fazer com que”. – na 1ª parte.
2 – São pronomes substantivos relativos: o qual e flexões, onde (o lugar em que, no lugar em que), quem ( a pessoa que, aquele que, o que), quando (em que), como (por que), quando (que).
3 – Comparem-se os pronomes substantivos relativos com as conjunções subordinativas integrantes.
XI
PRONOME SUBSTANTIVO DEMONSTRATIVO
QUE é pronome substantivo demonstrativo quando, referindo-se a um fato ou a um pensamento inteiro, equivale a isto ou isso. Exemplos:
“Acudiram juntamente todos os fidalgos e gente nobre da cidade: com que foi tanto o rumor”. (Souza, Arc., apud Said Ali).
“O malfeitor respondeu-lhe usando duma expressão sarcástica, a que replicou o jovem...”
“Ele dirigiu ao companheiro uma rosnadora, a que este respondeu com estirado monossílabo “yes”. (A. Herculano).
Que – como pronome substantivo demonstrativo – costuma vir precedido do artigo o, sendo, nesse caso, tomado como parte inseparável da locução:
“Ele portou-se mal, o que muito me contrariou”. (E. Carlos Pereira).
“Lembrou-se de todas as minúcias, o que o elevou ainda mais”.
“O ricaço gritou então: ó compadre, abra a porta, ao que o outro respondeu...” (Sílvio Romero, Apud. José Cretela Júnior).
VALORES SINTÁTICOS
Possuem os pronomes substantivos demonstrativos dos exemplos acima os seguintes valores sintáticos:
1 – Adjunto adverbial de causa.
2 –Objeto indireto.
3 – Objeto indireto.
4- Sujeito.
5- Sujeito.
6 – Objeto indireto.
NOTAS:
1 - Uma das formas diferenciadoras de “o que” (pronome + relativo) e “o que” – (= isto ou isso) é vir este último separado da oração anterior por vírgula.
2 -Cumpre dispensar bastante atenção no estudo de “a que” – locução que possui predicados e valores diversos. Diferenciamo-la nos exemplos:
“Ele dirigiu ao companheiro uma rosnadura, a que (preposição + demonstrativo) este respondeu...”
“Acreditou que o suborno envilece tanto a mão que o paga como a que (artigo + relativo) o recebe”. (Rui).
“Conduzir à verdadeira religião ou à que (preposição + artigo + relativo)julga ser verdadeira.” (F. Fernandes).
“A lição das escrituras... é a que (demonstrativo + relativo) mais pode consolar nos trabalhos”. (vieira).
“A história a que (preposição + relativo) você se refere já a conheço”.
“Convidamos os mestres a que (conjunção sub. Final) assistissem à posse da nova diretoria do Centro Acadêmico”.
3 – Ensinou-se já que o que seja igual a o qual fato, argumentando ser o que pronome relativo, abrangendo o sentido da oração anterior, tal o exemplo: “João conseguiu a sua nomeação, o que (o qual fato) representa a sua felicidade”. Levando-se em consideração o fato de o qual (e flexões) pôr em relação termos iguais, isto é, unir um termo antecedente a outro termo consequente idêntico, (V. Gram. Metódica de N. M. de Almeida, pág., 181) melhor faríamos flexionando a locução o qual e construindo o período em questão, da seguinte forma: “João conseguiu a sua nomeação, a qual representa felicidade”.
OBSERVAÇÃO:
1 – São pronomes substantivos demonstrativos: este, esta, isto, esse, essa, isso, aquele, aquela, aquilo, mesmo, mesma, própria, próprio, tal e o; as formas compostas – estoutro, aquele outro, etc.
XII
Adjetivo
Quando escrevemos a palavra que - o vocábulo que – estamos empregando mais uma função de que – a de adjetivo*:
“A palavra que está mal escrita”.
“Quando a palavra que estiver precedida...”
“Toda vez que o vocábulo que for...”
“Adjetivo é a palavra que, posta ao lado de um substantivo com o qual concorda em gênero e número, exprime a aparência exterior, o modo de ser, ou uma qualidade de tal substantivo.” (Anteprojeto de Simplificação da nomenclatura Gramatical Brasileira, apud Cândido de Oliveira). QUE, como adjetivo, refere-se ao substantivo restringindo-lhe uma qualidade. Assim, quando escrevemos: a palavra que é um advérbio quando equivale a “quão” – não queremos dizer que qualquer palavra é advérbio, mas, sim a que. Ao dizermos: “A interjeição que sempre vem acompanhada de ponto de exclamação” – restringimos qual seja essa interjeição.
NOTAS:
1 – Nesta função da palavra que não deve haver dúvidas quanto ao núcleo do sujeito. Com que palavra concorda o artigo, por exemplo, na frase: “A palavra que é a mais empregada do idioma português?” Com “palavra”, logo “a” e “que” são adjuntos adnominais de - palavra.
2 – Análise sintática do adjetivo: adjunto adnominal(do nome a que se refere).
Poder-se-ia dizer – adjetivo virtual ou palavra adjetivada.
Alguns adjetivos: belo, forte, francês, amável, feroz, branco, paulista, surdo-mudo, mole, frio.
XIII
Conjunção Coordenativa Aditiva
QUE – é conjunção coordenativa aditiva quando equivale a “e”:
“Outro, que não eu, poderá falar com mais frequência.” (C. Marques).
“A academia, às vezes, que não sempre, ignora o que legisla”. (L. Bittencourt).
“Dize-me com quem andas que eu te direi quem tu és.” (Provérbio).
“Chora que chora.” (Carlos Góis).
“Rezava que rezava.” (Idem).
“Mexe que mexe.” (F. da Silveira Bueno).
“Chove que chove.” (Idem).
“Fala que fala.” (N.F. B. Campinhos).
“Estudava que estudava: era véspera dos exames...”
“Eu que não ele exporei o acontecido”.
NOTA:
A análise sintática da conjunção coordenativa aditiva é: conetivo interoracional coordenativo aditivo.
1 – São conjunções coordenativas aditivas: e, nem, não só... mas, não somente... mas, não apenas... mas.
XIV
Conjunção Coordenativa Alternativa
É a palavra que conjunção coordenativa alternativa quando equivale a “ou”. Exemplos:
“Vou ao cinema uma que outra vez.” (F. Silveira Bueno).
“Irei a Santos, chova que não chova”. (Marques da cruz).
“Que jogue, que não jogue, é o mesmo resultado: escoa-se o dinheiro”. (N. J. Barroso Campinhos).
“Estudem que não estudem, as provas serão realizadas amanhã.
“Que explique, que não explique, será despedido.”
“Queira que não queira, participarei da partida.”
“Um que outro procurará fazer as pazes.”
NOTA:
A análise sintática da conjunção coordenativa alternativa: conetivo interoracional coordenativo alternativo.
OBSERVAÇÃO:
1 – São conjunções coordenativas alternativas: ou, ou.. ou, ora, ora... ora, já... já, quer, seja... seja, quando... quando, agora... agora, seja que... seja que.
XV
Conjunção Coordenativa Adversativa
QUE – é conjunção coordenativa adversativa quando equivale a “mas”.
“De outras ovelhas cuidarei, que não de vós.” (Garrett).
“Doutras pessoas falam, que não de nós.” (j. N. de Melo).
“Todos falarão, que não eu.”
“Não acreditou em nada do que ouviu, que na realidade dos fatos.”
“Discutiram os professores e os alunos, que não nós.”
“Entre os fatos criam-se histórias que não verdadeiras.”
NOTA:
É a seguinte a análise sintática da conjunção coordenativa adversativa: conetivo interoracional coordenativo adversativo.
OBSERVAÇÃO:
1 – São conjunções coordenativas adversativas: mas, porém, todavia, contudo, não obstante, aliás, entretanto, no entanto, ainda assim, só que, ao passo que, senão que.
XVI
Conjunção coordenativa Explicativa
Não eram consideradas até 1959 como conjunções coordenativas explicativas as palavras “porque” e “que”. Todavia, a Nova nomenclatura Gramatical vem de registrá-las. É a seguinte a “nota” constante na citada nomenclatura autorizada a entrar em vigor pela portaria ministerial n 36 de 28/1/59 e publicada no Diário Oficial de 11/5/59:
“As conjunções que e porque e equivalentes ora têm o valor coordenativo, ora, subordinativo; no primeiro caso chamam-se explicativas; no segundo, causais.”
Críticas são feitas ao sentido desta nota. E com muitíssima razão: afirmou-se, com ela, que a conjunção que, quando coordenativa, chamar-se-á explicativa. Se assim for, que faremos com que, aditiva, que, alternativa, que, adversativa? E, referente ao segundo caso, com que, comparativa, que, integrante, etc.?!
Constando a conjunção que como coordenativa explicativa pela Nova Nomenclatura, aceitemo-la.
"Que" é conjunção coordenativa explicativa quando equivale a “porque”.
Explica-nos o Prof. Gama Kury, um dos primeiros a expor a nomenclatura atual, ser que, explicativa, quando a oração coordenada explica simplesmente a razão de ser feito a declaração anterior, que, na maioria dos casos, tem o verbo no imperativo. Exemplos:
“Não se entristeça, que você terá outra oportunidade”.
“Não chores, meu filho, que a vida é luta renhida.” (G. Dias).
NOTA:
Análise sintática da conjunção coordenativa explicativa: conetivo interoracional coordenativo explicativo.
OBSERVAÇÃO:
1 – São conj. Coord. Expl.: isto é, quer dizer, por exemplo, porque, ou seja, na verdade, a saber, com efeito, demais, ademais, de mais a mais, outrossim, ora, além disso.
XVII
Conjunção Subordinativa Temporal
É que conjunção subordinativa temporal quando empregada com a equivalência de “logo que”, “desde que”, “antes que” e “quando”. Exemplos:
“O mestre primeiro amainou que (antes que) desse o vento” (Camões).
“Porém, já cinco sóis eram passados que (desde que) dali nós partíramos”. (Idem).
“Chegados que fomos (logo que fomos chegados) recebemos a notícia”. (Carlos Góis).
“Chegando que fomos (quando fomos chegando) recebemos a notícia.”
“Talvez não haja uma hora que passou pelo retiro”. (C. Pereira).
“Há muito tempo que moro nesta casa”. (Idem).
“Há duas semanas que não estudo”.
“Ainda há bem pouco tempo que a pedra tumular encerrou as cinzas de João Batista de Almeida Garret”. (Latino Coelho).
NOTA:
A análise sintática da conjunção subordinativa temporal é: conetivo interoracional subordinativo temporal.
OBSERVAÇÃO:
1 – São conjunções subordinativas temporais: antes que, agora que, logo que, assim que, até que, quando, enquanto, sempre que, depois que, apenas, mal, ao passo que, cada vez que, (tanto que = logo que), desde que, ao tempo que.
XVIII
Conjunção Subordinativa Condicional
QUE – é conjunção subordinativa condicional quando equivale a “se”:
“Não fui que quebrei o copo; mas que fosse, que tem você com isso?” (Marques da Cruz).
“Que não considerada aquela proposta, outra não faríamos”.
“Ensinava-lhe todos os dias as lições, todavia, o mesmo teria recebido que não o fizesse”.
“Não olha o céu que não se lembra da esposa que para lá foi.” (Laudelino Freire).
“Que não soubesse as lições, não faria a prova”.
NOTAS:
1 – Análise sintática da conjunção subordinativa condicional: conetivo interoracional subordinativo condicional.
2 – Ensina Cândido de Oliveira ser que, conjunção subordinativa condicional, quando também equivaler a “senão”: “Não sei de pessoa melhor que você”. (Revisão Gramatical, 7 ed., pág. 472).
OBSERVAÇÃO:
1 – São conjunções subordinativas condicionais: se, salvo se, contanto que, sem que, caso, a não ser que, exceto se, a menos que, se caso, senão, salvo que, exceto que, desde que.
XIX
Conjunção Subordinativa Causal
É a palavra que conjunção subordinativa causal quando equivale a “porque”. Exemplos:
“Não dei aulas ontem, que estava adoentado”. (N. J. B. Campinhos).
“Pode o Sr. Norberto gastar ou aumentar o que tem, que sua filha não esperará a morte do pai para poder comprar mais um vestido”. (Camilo).
“Não vos peço por mim. Divino Mestre, que, igual aos muitos pecadores, mereço ser levado ao tribunal da Divina Justiça”. (Nidoval Reis).
Conforme já vimos na exposição de que – conjunção coordenativa explicativa – tornou-se um tanto dúbia a diferença entre as orações explicativas e causais iniciadas por “que” (e “porque”). Não se pode comentar uma sem se ter, em mente, a outra, tão forte é o liame que as une.
Todos os exemplos dados na função – explicativa – pertencem à - causal. Por aí se pode deduzir a desvalorização sofrida por esta última que ficou cingida aos casos considerados, indubitavelmente, como causais, isto é, nos casos em que a oração subordinada represente, de fato, uma causa referente ao verbo da subordinante.
NOTA:
Análise sintática da conjunção subordinativa causal: conetivo interoracional subordinativo causal.
OBSERVAÇÃO:
1 - São conjunções subordinativas causais: porque, já que, visto que, uma vez que, pois que, portanto, visto como, por isso que, como quer que, em virtude que.
XX
Conjunção Subordinativa Final
É que – conjunção subordinativa final - quando equivale a “para que”. Exemplos:
“Cuidado contigo que não tenhas de voltar a botica a manipular aquela erva bicha”. (Camilo).
“Criarei estas relíquias, que aqui viste que refrigério sejam da mãe triste”. (Camões).
“Deitou-nos Deus a bênção que crescêsseis e multiplicásseis”. (Vieira).
“As gentes da terra toda enfreias, que não passem o termo limitado”. (Castilho).
“Faço votos que sejas feliz”.
“Avisa-os que se não comprometam”.
“Abençoou-nos que partíssemos felizes”. (J. N. Melo).
“As estrelas da manha despertam aos outros, que se levantam a servir Deus”. (A. Gama Kury).
NOTA:
Analise sintática da conjunção subordinativa final: conectivo interoracional subordinativo final.
OBSERVAÇÃO:
1 – São conjunções subordinativas finais: para que, a fim de que, a que (= para que).
XXI
Conjunção subordinativa consecutiva
QUE é conjunçao subordinativa consecutiva quando equivale a “de modo que”, “de maneira que” ou quando possui um termo (“advérbio ou adjetivo da oração principal” que com ela se relacione:
“Nunca fui à sua casa, que não o achasse estudando”. (E. C. Pereira).
“Tão temerosa vinha e carregada (a nuvem), que pôs nos corações um grande medo”. (Camões).
“E foi tão grande o pavor que concebi, que me encaneceram, de repente, os cabelos”. (M. Barreto).
“Tanto durei que consegui chegar ao fim”. (Aulete).
“Senti tamanha fraqueza, que cai no chão”. (M. Maciel).
“Alegou tais razoes, que todos ficaram convencidos”. (F. Fernandes).
NOTAS:
1 – Inclui a N.G.B. entre as consecutivas, as conjunções relativas (assim como, quão, etc.). Elogiável, assim podemos considerar, o espírito significativo que norteou o trabalho da Comissão incumbida da apresentação do ante-projeto da N.G.B.
2 – “Tão”, “tanto”, “tamanho” e outras palavras relacionadas com a consecutiva que devem ser analisadas de acordo com as funções que exercem na oração principal e não como se fizessem parte intrínseca de que.
3 – Análise sintática da conj. Sub. Consecutiva: conetivo interoracional subordinativo consecutivo.
OBSERVAÇÃO:
1 – São conj. Sub.consecutivas: de modo que, de maneira que, de sorte que, de jeito que e que (consecutivo de “tão”, “tal”, etc.).
XXII
Conjunção Subordinativa concessiva
É a palavra que conjugação subordinativa concessiva quando equivale a “embora”, “mesmo que”, “ainda que” e posto que”. Exemplos:
“Talvez que a chuva passe e o tempo mude e, que não mude, um teto aqui nos abre.” (Alberto de Oliveira).
“que seja ladrão, não podemos matá-lo”. (J. N. de Melo).
“que não me ensinem o caminho, eu lá chegarei”.
“Grande que seja o sacrifício futuro, convém impor-se essa diretriz”.
“Gosto de goiabas, verdes que estejam”. (Marques da Cruz).
Observação - Teve o autor do ultimo exemplo acima o cuidado para evitar ambigüidade de sentido, pois, que, antecedendo a verdes, poderia ser interpretada como relativo.
NOTA:
Análise sintática da conjunção subordinativa concessiva: conectivo interoracional subordinativo concessivo.
OBSERVAÇÃO:
1 – São conjunções subordinativas concessivas: embora, posto que, ainda que, se bem que, quando mesmo, mesmo que, por mais que, dado que, conquanto, conquanto que, contanto que, nem que, apesar de que, por mais que, por menos que, ainda mesmo que, a despeito de que, bem que, mas que, suposto que.
XXIII
Conjunção Subordinativa Comparativa
QUE é a conjunção subordinativa comparativa quando liga à principal uma oração indicadora de comparação:
“mais sofrível é inimigo prudente que amigo imprudente”. (E. Carlos pereira).
“Menos nos impressionam as coisas que dizemos, diz Voltaire, que o modo as dizemos”. (Carneiro Ribeiro).
“Todos nós pouco mais somos que uns comediantes”. (Rui).
“hoje choveu mais que ontem”.
“Ele é mais feio que bonito”.
“Pedro é mais estudioso que Paulo”.
NOTAS:
1ª – Comumente possuem as orações comparativas termos elípticos:
“A sabedoria é melhor que ouro.” = que ouro é bom.
“Ele escreveu mais que eu”. = que eu escrevi muito.
2ª – V. nota 2ª da função XVIII
3ª – Análise da conjunção subordinativa comparativa: conectivo interoracional subordinativo comparativo.
OBSERVAÇÃO:
1ª – São conjunções subordinativas comparativas: do que, como, quanto, tal qual, tanto quanto, tanto como.
XXIV
Conjunção subordinativa Integrante
QUE é conjunção subordinativa integrante quando liga à oração principal, completando-lhe o sentido, uma subordinada substantiva. Exemplos:
“Respondeu-lhe ele que Soares era inocente e nisto ficou”. (Camilo).
“Hás de lembrar-te que as bolhas fazem-se e desfazem-se de continuo”. (Machado de Assis).
A conjunção subordinativa integrante que inicia:
a) Oração subordinada substantiva subjetiva:
“Melhor será para nós que não haja conspirado”.
“Que importa que se tivesse engradado a janela a sete chaves”. (M. Alencar).
“Se já empreendemos viagens marítimas, é natural que alguma coisa do mar tenha causado admiração”. (J. Nogueira).
“Foi necessário que Sebastião falasse tudo”.
“Convém que venhas à escola”.
“É sabido que ele vem a São Paulo”.
“Parece que a cidade esta em festas”.
“Não foi escrito que o reitor estivesse aqui”.
b) Oração substantiva objetiva direta:
“Com esse talento conjeturo que irá longe”. (Séquier).
“Quero que a sala esteja repleta de flores e de perfumes”. (Mafra Carboniéri).
“Insinuei que deveria ser muitíssimo longe”. (M. de Assis).
“Não consinto que vos arrisqueis de novo”. (A. Herculano).
“Desejo que venhas para Aparecida do Norte”.
“Julguei que tudo corria bem”.
“Peço-lhe que venha logo”.
“Fiz com que Pedro viesse”.
c) Oração subordinada substantiva objetiva indireta:
“Lembro-me bem de que nos assentamos de costas para a estrada”. (Rui).
“A tua aprovação depende de que estudes seriamente a matéria”. (F. S. Bueno).
“Necessito de que estejas presente”.
“Confio em que Deus venha a salvá-lo”. (Manseur Guérrios).
“Inclino-me a que faças o curso de direito”.
d) Oração subordinada substantiva completiva nominal:
“Ficar certo de que o mestre não falseia o livro nem lhe acrescenta um jota”. (Camilo).
“A noticia de que Pedro morreu é inexata”. (C. Góis).
“isto depende de que estejas presente”.
“Torcia com esperança que seu clube vencesse”.
e) Oração subordinada substantiva predicativa:
“Mas o que eu noto nestas escuras é que todos convieram em uma só razão”. (M. Maciel apud F. Fernandes).
“O que vos dá mais fama é que vençais tantas ingratidões, tão grande inveja”. (Camões).
“Uma coisa vos confessarei eu, Senhor Leonardo, que é que os portugueses são homens de ruim língua”. (F.R.L. apud C. Pereira).
“O menino parece que chora”. (J. Benedito Pinto).
OBSERVAÇÃO:
Controvérsias existem sobre a existência da oração predicativa. Há os que afirmam negativamente, comprovando com espécies de argumentos. De fato, se se usar a deslocação dos termos ou se for levada em conta, piamente, que o sujeito oracional venha posposto ao verbo, poderemos tomar como subjetivas as predicativas. Preferimos ficar do lado dos de afirmação positiva, indo, aliás, com as determinações da Nova Nomenclatura Gramatical.
f) Oração subordinada substantiva apositiva:
“Peço-te um favor, que guardes estas cartas”. (A. Gama Kury).
ELIPSE
É do gênio da língua a omissão da conjunção integrante:
“Sou eu que mando vás vestir as vestiduras da missa”. = que vás... (A. Herculano).
“Nunca imaginei pudesse meu nome acompanhar trabalho sobre análise”. = que pudesse... (Frei Roberto B. Lopes)
“Julgamos já fosse dia”. = que já...
“Ordeno seja cumprida minha ordem”. = que seja...
“Requeiro a S. Sª determine uma revisão nos impostos”. = que determine...
ELIPSE DA CONJUNÇAO E DEMAIS MEMBROS
Além da integrante, pode acontecer estar também os demais membros da oração omitidos:
“Procedo conforme determinaste”; - isto é, determinaste que eu procedesse. (U. Cintra e M. Leite).
“Faço (isso) como queres”. - isto é, queres que eu faça isso. (C. Pereira).
REPETIÇÃO
Embora seja raro o emprego da integrante que em repetição, é um fato do nosso idioma. Carlos Góis cita os seguintes exemplos:
“Eu sou bem informado que a embaixada que do reino me mandaste, que é fingida”. (Camões).
“Sabia bem que se com fé formada, mandar a um monte surdo que se mova que obedecerá logo à voz sagrada”. (Idem. M. de Análise 40).
EXPLETIVO
Nas orações optativas, isto é, que exprimem votos para que seja realizada alguma coisa, pode a conjunção que ser considerada expletiva ou, então, subentender-se o verbo “desejar”, nesse caso, sendo retirado o valor expletivo da conjunção. Exemplo:
“Que Deus o favoreça”. = Desejo que Deus o favoreça”. (C. Góis).
Sobre o assunto é necessário criarmos a convicção que mais condiz com a de eminentes filósofos. Fiquemos com a do ilustre Prof. Gérson Rodrigues: “Quando aparece a conjunção que, é possível, mas desnecessário, analisar-se ou entender-se a omissão do verbo desejar ou seu sinônimo“. (Análise Sintática Exemplificada, 6).
Outros exemplos:
“Que sejas feliz”.
“Que Deus te abençoe”.
“Que tuas ações dêem bons frutos”.
NOTA
Análise sintática da conjunção subordinativa integrante: conetivo interoracional subordinativo integrante.
OBSERVAÇÃO:
1ª – São conjunções subordinativas integrantes: se, e nalguns casos, como, quando, quanto.
XXV
Conjunção subordinativa Conformativa
É que conjunção subordinativa conformativa quando exprime conformidade ou paralelismo e significa - “conforme ou segundo”:
“Fraco que é, preocupa-se só com repouso”.
NOTAS:
1ª – Análise sintática da conjunção conformativa: conetivo interoracional subordinativo conformativo.
OBSERVAÇÃO:
São conjunções subordinativas conformativas: conforme, consoante, segundo.
XXVI
Interjeição
É a palavra que interjeição quando, isolada, exprime sentimento súbito e impressões de admiração ou espanto e vem seguida de ponto de exclamação ou também de mais outro – o de interrogação.
“Que! Vocês revoltaram-se?!” (Marques da Cruz).
“Que! Isto é verdade?”
“Que! Você por aqui?!” (Cândido de Oliveira).
“Que! Como pode isso acontecer!”
Pode vir a interjeição que precedida do articular o.
Exemplos:
“O que! Você discutiu novamente?!”
“O que! Já resolveste os problemas?!”
Quanto ao seu valor sintático é classificada a interjeição que como palavra denotativa ou palavra de admiração e espanto, semelhante a mesma classificação das palavras que indicam realce, afetividade, etc...
Carlos Góis, em seu notável método de Análise, denomina interjeição “ah!” de expletivo emocional.
OBSERVAÇÃO:
1– São interjeições: ah!, oh!, hem!, oxalá!, tomara!, puxa!, chi!, psiu!, etc... São locuções interjetivas: pobre de mim!, oras bolas!, valha-me Deus!, etc...
XXVII
Partícula Expletiva
Vimos, ate a enumeração anterior, todas as funções da palavra que. Vimo-la funcionar como substantivo, advérbio, pronome, etc. Agora vamos anotar seu emprego como palavra sem função, sem classificação, que morfológica, que sintática: Todas as vezes que a palavra que aparecer numa frase apenas para nela figurar como realce, sem qualquer outro valor, denomimo-la PARTICULA EXPLETIVA.
Exemplos:
“Oh! que nesta idade da vida e de esperanças custa muito morrer”. (A. Herculano).
“Oh! que é muito”. (A. Herculano, apud C. Pereira).
“Quase que perdi a razão com tanto barulho”.
“Oh! que se fosse possível alevantar-se ele em pé sobre a campa”. (Herculano).
“Certamente que irei”.
NOTA:
Na análise sintativa, referente à partícula expletiva, podemos anotar: palavra de realce ou termo expletivo.
OBSERVAÇÃO:
1ª – Outras palavras podem figurar na frase como expletivas, tais os exemplos:
“Tu sabes lá o que faz.”
“Eu cá mereço isso?”
“Eu assisto às fitas todas e não costumo contá-las a ninguém: agora, se me perguntam, conto-as.”
Resumo das Funções
1 – SUBSTANTIVO
Quando precedido de artigo ou prenome adjetivo demonstrativo: “Esta palavra é um quê.”
2 – PREPOSIÇAO ESSENCIAL
Quando equivaler a “de”: “O estudante tem que estudar as lições”.
3 – PREPOSIÇAO ACIDENTAL
Quando equivaler a “exceto”: “Não tem de se extinguir que no jazigo.” (FELINTO).
4 - ADVÉRBIO DE INTENSIDADE
Quando exprimir uma circunstância a um adjetivo, verbo ou a outro advérbio: “Que belo está o dia.”
5 – ADVÉRBIO DE NEGAÇÃO
Quando equivale a “não” e precede um verbo na 3ª pessoa: “Que importa: eu já sabia.”
6 – PRON. SUBST. INDEFINIDO
Quando esta no lugar dum substantivo, caracterizando-se pelo sentido vago: “Que houve!”
7 – PRON. SUBST. INTERROGATIVO
Quando esta no lugar dum substantivo nas frases interrogativas: “Que fizestes?”
8 – PRON. ADJ. INDEFINIDO
Quando precede um substantivo e equivale a quanto (e flexões): “Que bondade possuis!”
9 – PRON.ADJ. INTERROGATIVO
Quando precede um substantivo em frases interrogativas: “Que horas são?”
10 – PROM. SUBST. RELATIVO
Quando se refere a um antecedente e liga duas orações: “O aluno que estuda será aprovado.”
11 – PRON. SUBST. DEMONSTRATIVO
Quando, referindo-se a um fato da oração anterior, equivaler a “isto” ou “isso”: “todos estudavam quietos, a que o professor comentou: é o melhor sistema”.
12 – ADJETIVO
Quando, proposto a um substantivo, exprimir-lhe uma qualidade: “A palavra que é muitíssimo empregada.”
13 – CONJ. COORD. ADITIVA
Quando equivale a “e”: “Nas vésperas dos exames, ela estuda que estuda sem parar.”
14 – CONJ.COORD. ALTERNATIVA
Quando equivale a “ou”: “Pratico esportes uma que outra vez.”
15 – CONJ. COORD. ADVERSATIVA
Quando equivale a “mas” ou “senão”: “De outros alunos falarão, que não de nós”.
16 – CONJ. COORD. EXPLICATIVA
Quando equivale a “porque” e liga uma oração explicativa a anterior: “Estude que os exames vêm aí.”
17 – CONJ. SUB. TEMPORAL
Quando equivale a “logo que” e “desde que”: “Há dois meses que ele falta às aulas.”
18 – CONJ. SUB. CONDICIONAL
Quando equivale a “se”: “Que não estudasse, não seria aprovado.”
19 – CONJ. SUB. CAUSAL
Quando equivale a “porque” e liga à principal um oração concernente ao verbo daquela: “Não estudei nada ontem que tinha viajado.”
20 – CONJ. SUB. FINAL
“Quando equivale a “para que”: “No inicio dos anos letivos fazem os professores preleções que estudem bastante os alunos.”
21 – CONJ. SUB. CONSECUTIVA
Quando equivale a “de modo que” ou quando possui relação com o termo da oração principal: “Tanto estudou que conseguiu ser aprovado.”
22 – CONJ. SUB. CONCESSIVA
Quando equivale a “mesmo que” ou “ainda que”: “Que estudasse, não seria aprovado.”
23 – CONJ. SUB. COMPARATIVA
Quando liga à principal uma oração comparativa: “Estudo mais Português que Francês.”
24 – CONJ. SUB. INTEGRANTE
Quando liga à principal uma oração substantiva: “Ela disse que iria estudar.”
25 – CONJ. SUB. CONFORMATIVA
Quando equivale a “conforme”: “Sabido que sou eu, vencerei a questão.”
26 – INTERJEIÇAO
Quando exprime sentimento súbito e vem isolada da frase por ponto de exclamação: “Que! Isto acontece.”
27 – PART. EXPLETIVA
Quando aparece na frase sem função alguma: “Certamente que estudaremos.”
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