Origem da Palavra QUE
Etimologicamente, é a palavra que pronome substantivo
relativo (com referência ao gênero neutro). Vem da forma quod (acusativo
singular, tido como o caso lexicogênico).
Em geral, o pronome
substantivo relativo vem de qui, quae, quod = o qual (quem), a qual
(quem), que obedece ao seguinte quadro declinativo:
Começou o emprego de que,
como conjunção, ainda no desenvolvimento do latim clássico, na forma
quod e, depois, no latim vulgar na forma quae, em seguida, que.
Sobre o assunto comenta o ilustre mestre SAID ALI:
"Se
não filiamos a integrante 'que' diretamente à conjunção latina quod,
por se oporem a isso as leis fonéticas, somos, todavia, forçados a
admitir que o étimo verdadeiro, qualquer que fosse (quia, quid, etc.),
teria, a partir de certa época, adquirido valor igual ao daquela
partícula, cursando então, simultaneamente, com ela na linguagem vulgar e
acabando por suplantá-la."
Mas com o indicado somente que a
oração equivale a um substantivo, o qual serve de sujeito ou objeto a
outra oração, a particula não revela nenhum colorido próprio, sendo de
estranhar, a julgar pelo estado atual da linguagem que, para ssumir a
sentença, a desejada feição integrante fosse necessário e bastante
antepor-lhe o pronome relativo. Não foi, no entanto, rigorosamente este o
processo primitivo.Quod tinha seu antecedente demonstrativo (hoc, illud, id), com que à guisa de sumário se antecipa um enunciado, como em hoc uno praestamus vel maxime feris, quod exprimere dicendo sensa possumus.
O antecedente podia, sem prejuízo do sentido, omitir-se e, sendo esta
prática mais simples, tornou-se ela pouco a pouco em costume, ao mesmo
tempo que se ia obliterando a consciência da função pronominal de quod. O enunciado non pigritia facio, quod non mea manu scribo
era a alteração semântica de outro que, reconstituído, equivaleria a
"não faço por preguiça isto (= oseguinte), que não escrevo de próprio
punho". O esquecimento, fator essencialíssimo na evolução da linguagem,
transformou em tais construções o valor primitivo de quod, oral
em causal, ora em partícula tão inexpressiva que, já no latim da
decadência, veio a servir de mero expoente das orações subordinadas,
cujo caráter não se definisse por meio de outra partícula. Herdeira de quod, assim diferenciada, é a conjunção portuguesa que, com a variante ca (qual), usada no falar antigo para exprimir o sentido causal.
E termina observando o famoso mestre:
"Os
fatores de um fenômeno linguístico são muitos e é possível que a
conjunção quod procedesse não somente do pronome relativo, mas também do
pronome interrogativo. Para admitir, como alguns linguistas se inclinam
a crer, que todos os fatos se devam referir somente a frases
interrogativas, faltam argumentos convincentes."
Dum ponto ao
outro, da sua nascença até sua forma atual, impossível seria
descrever-se as formas pelas quais passou a palavra - que - em relação
aos seus valores diversos, ricamente progressistas, até chegar à forma
atual. O que se pode dizer é que, na época do latim clássico e da
decadência, possuiu, além das formas comentadas acima, outras que, salvo
exceções, equivaliam a: quais = pronomes interrogativos; quam =
advérbios; quod e quia = conjunções.
Quê
Substantivo - é monossílabo tônico.
Que
Advérbio, pronome, etc - é monossílabo átono.
Letras componentes de QUE
Q - décima sexta letra do alfabeto. Pronúncia: quê. É acompanhada sempre de u
e apareceu no latim. segundo abalizados autores, é correspondente ao
"hopp" do alfabeto dórico, que, presume-se, tirou-o, por sua vez, do
fenício - "koph".
Classifica-se:
Quanto ao modo de articulações: oclusiva;
Quanto ao ponto de articulação: velar;
Quanto ao papel das cordas vocais: surda;
Quanto ao papel das cavidades bucal e nasal: oral.
U - vigésima letra do alfabeto. Não é pronunciada. Faz parte obrigatória de q e serve para ligar a vogal e à consoante q. Nasceu no findar do latim popular e formação do português. Antes o u e o v eram escritos da mesma maneira, na forma v.
E - quinta letra do alfabeto. Vem do latim que, por sua vez, trouxe-o dos gregos, estes dos fenícios e egípcios.
Classifica-se:
Quanto à zona de articulação: anterior;
Quanto ao timbre: fechada;
Quanto ao papel da cavidade bucal e nasal: oral;
Quanto à intensidade: átona (ou tônica).
Em Que
O grupo de letras (qu) denomina-se dígrafo, pois só representa um fonema.
Quê e Que
De
todas as funções desta mágica palavra do idioma português, somente
quando for substantivo é que deve ser acentuada. Autores, em grande
maioria, explicam ser obrigatório o acento circunflexo no e quer seja interjeição, quer seja qualquer pronome, quer ainda pertença a qualquer classe, desde que venha no fim da frase!
Fazer com Que
Das mais interessantes, quanto ao seu estudo regencial, é a expressão - fazer com que.
Alguns a reprovam, outros, representando a maioria, defendem-na,
abonados pelo uso que dela fizeram os clássicos. Refere-se, todavia, o
grande fator da discórdia à parte sintática. Foi dito que a oração
iniciada pelo que é um objeto direto preposicionado; que "fazer
com que" equivale a "conseguir", que "com que" inicia oração objetiva
indireta, etc.
Todos os opinadores possuem um quê de razão: um
pela analogia, outro pela elasticidade da significação verbal, outro
pela disposição rígida das palavras na construção.
Carlos Góis,
em seu procurado Método de Análise, explica que "fiz com que Pedro
viesse" é igual a "fiz com Pedro que viesse",sendo objeto indireto com Pedro e objeto direto oracional que viesse.
Usando
também da elasticidade regencial do verbo fazer, conclui o ilustre
mestre, corresponder a frase citada a - "obtive de Pedro, alcancei de
Pedro que viesse".
Eis alguns exemplos de considerados autores:
" Fizera com que lhe cedessem voluntariamente o mando supremo". (A. Herculano)..
"Fazer com que os pobres trabalhem para os pobres". (A.F. de Castilho).
"Por vezes fazia com que Lenita se frisasse, se espartilhasse, se enflorasse". (J. Ribeiro).
Com que então
Locução interjetiva. Significa, é Napoleão Mendes de Almeida que nos explica, pelo que vejo, quer dizer que: "Com que então você quer mesmo ir-se embora? (Gram. Metódica, pág 278).
Não há de que
Frase
empregada em resposta a um pedido de desculpa. Que - é pronome
substantivo relativo preposicionado. Seu antecedente está oculto.
Trazendo à tona da claridade seus membros, podemos assim compor o
período: "Não há coisa alguma de que você se desculpe." (Ou de que você
de deva desculpar).
Que é de? - Quede e cadê
Que é de?
é expressão interrogativa implícita. Tornada plena poderá ser: "Que é
feito de Pedro?" - "Que é feito do dinheiro?", etc. Equivale essa
interrogativa que é de? a onde está? (onde está Pedro? - onde está o dinheiro?).
Da forma que é de popularizaram-se as formas: quede, quedê e cadê
(quede meu livro? - quedê meu livro? cadê meu livro?). Nos dois
primeiros casos deu-se a fusão das três palavras; no terceiro deu-se a
troca dos dois primeiros termos por ca.
Cadê, muito
embora ainda seja condenada pelos puritanos, está começando a romper a
"barreira" que constituem os gramáticos, tal a força com que vem sendo
empregada até mesmo por conceituados escritores.
Aos que condenam esta palavra com força verbal e adverbial lembramos que agora é provenientede hac hora; hoje, de hoc die; embora, de em boa hora; fidalgo, de filho de algo; oxalá, de en shâ allah (assim queira Deus, tradução do árabe).
É que
Vernácula e de grande uso é a expressão - é que. Seu emprego dá graça, energia, realce e relevo à frase. Exemplos:
"Naquela crise é que ele se deu a conheceer". ( Aulete).
"Onde é que se escondeu a antiga fortaleza?" (A. Herculano).
"O incomensurável livro da vida e da natureza, sobretudo, é que instrui e educa a sua alma". (Gutemberg de Campos).
"Isso é que era vigor de imaginação, habilidade de enredar a perspicácia dos adivinhos de trágicas catástrofes". (Camilo).
"Os outros é que se enfastiam e cansam de tanta barafusta". (Garrett).
Não há regras para a colocação de é que no período. Pode o é vir seprado de que:
"É por eles que eu choro". (Júlio L. de Almeida).
"É a ti que estou falando". ( Paulo Rónai).
Por analogia comumente, aparece o verbo da expressão é que noutro tempo e modo:
"Foi Iracema que nos contou".
"Sou eu que pago as contas".
"que foi que o colega disse?"
A análise sintática dos períodos em que figura a locução idiomática é que,
ou outra com o verbo modificado, oferece ao estudioso margens para
interpretações diferentes. Se bem que a locução seja sempre denominada
expletiva, ou de realce, autores há que lhe dão valor real. No exemplo -
"É a esperança que nos conforta"- explicam estar oculto o pronome
demonstrativo o. Assim fosse ficaria a frase - "É a esperança o que nos conforta". O - predicativo e que
(pronome subst. relativo) - sujeito de conforta. No exemplo - "Nós é
que somos patriotas" - (oração subst. subjetiva) é fato (predicado
nominal).
Afora de qualquer comodismo manda a razão gramatical que consideremos, juntamente com ilustres filólogos, é que inanalisável, salvo, é obvio, quando expresso estiver o predicado nominal. Exemplos:
"Foi isto o que eu falei com ele". (Aulete).
"O certo é que na porta da serventia interior do cartório havia um rombo daqueles". (J. de Alencar).
"O que é certo é que o fígaro teve uma idéia genial". (Elias F. D`Annuziata).
NOTAS:
1ª - É comum omitir-se o é da expressão é que.
Exemplos:
"Quando que chegou o deputado?"
"Que que lhe parece?"
"Pedro que fez o serviço".
2ª
- Raríssimas vezes sói acontecer de a clareza do discurso exigir seja
dado como predicativo em termo ou termos dum outro período.
3ª - Não se deve tomar como explicativa a locução é que que inicia oração substantiva predicativa. (V. função,XIV, alínea e).
4ª - Anotar a função XXV, alínea e e função XXIV.
Pois que!
É pois que! locução interjetiva.
Sabemos que pois é conjunção coordenativa conclusiva e que,
quanto à origem, pronome substantivo relativo. Juntos nesta locução,
formam uma locução interjetiva. Pode ela, assim como as interjeições,
exprimir diversos e diferentes sentimentos. Geralmente indica estranheza
e repulsa sentidas pelo sujeito ao ouvir algo que o contrariou. Notemos
os seguintes exemplos:
"Tu queres viajar? Pois que!"
"Estão os problemas resolvidos?! Pois que!"
Clara
é a diferença de pois que! - locução interjetiva e pois que - conjunção
subordinativa causal. a primeira vem sempre seguida de ponto de
exclamação; a segunda liga orações:
'Viajaremos todos, pois que estamos de férias".
Que tal
É locução equivalente a que lhe parece? e construções interrogativas semelhantes. Exemplos:
"Que tal? - ou - Que lhe parece meu chapéu?"
"Que tal? - ou - Que lhe pareço vestido assim?"
"Que tal? - ou - Como estamos nós?"
É outro que tal
N. Mendes de Almeida assim resolve esta curiopsa frase: "É outro que ja se falou".
Por que e porque
Muito se tem errado com o emprego de "por que" e "porque".
Seu uso deve se restringir às seguintes disposições:
Emprega - se "porque" quando for conjunção coordenativa explicativa ou subordinativas causal e final. Exemplos:
"A criança encantada porque simboliza a inocência". (causal) (J.N. de Melo).
"Crianças, estudai porque os exames estão próximos". (explicativa).
"Prepara-te bem para os exames porque os faças corretamente". (final) (F.S. Bueno).
Emprega-se "por que" quando:
a) que for pronome substantivo relativo. Exemplos:
"Foi este o caminho por que (pelo qual) passamos".
"Estes são os motivos por que (pelos quais) não considerarei sua proposta".
b) que for pronome interrogativo ou indefinido. Exemplos:
"Por que reclamas!"
"Por que motivo não compareces mais às reuniões?"
"Por que duvida tanto ao ponto de me pedir um juramento?" (S. Bueno).
c) equivaler a "para que"
"Faço votos por que sejas feliz".
NOTAS:
1ª
- Fácil é não confundir com os casos referidos "por mais que",
concessiva que pode aparecer separada e, também, sem o "mais". Exemplos:
"Não há caso por mais que seja perdido" = "Não há caso por perdido que seja". (Carlos Góis).
2ª - V. função VII, nota 1A
Qual o que!
Locução interjetiva empregada para expressar um sentido súbito de dúvida ou desencanto:
- "Conseguiste aprovar a maioria dos alunos?".
-"Qual o que!"
Só que
É locução equivalente a mas, todavia, contudo
- conjunções coordenativas adversativas. Embora não seja canônica é
constantemente usada, principalmente no falar comum. Exemplos:
"Encontrei-me com o devedor, só que não pude cobrá-lo".
"As colegiais participaram do desfile, só que mal vestidas".
Que nem
Locução
conjuntiva clássica, correta, literária e vernácula. Seu emprego hoje
se dá, todavia, quase que somente no falar comum. A razão, por que é ela
evitada pelos mais cultos, explica-se da seguinte forma:
No
emprego clássico era a locução "que nem" - conjunção subordinativa
consecutiva, tal o exemplo: "O erudito fez-se vermelho que nem uma româ"
- isto é - "O erudito fez-se tão vermelho que nem uma romã é tão
vermelha". (R. da Silva, apud Marques da cruz, P. Prático, 199). Depois,
por haver certa familiaridade entre a consecução e a comparação, passou
ela a ser empregada também como conjunção subordinativa comparativa,
com a significação de como. Exemplos: Ele é que nem eu" - "Aquele estudante é que nem os outros". Iniciado o uso de que nem comparativa passou, por conseguinte, a ser pronunciada sem a pausa que era e é necessária à significação consecutiva. Que nem,
por força dessa "evolução" ou "permuta", passou a ser interpretada pela
maioria dos eleitores como comparativa, muito embora seja crível que o
escritor tenha usado seu valor clássico, isto é, consecutivo. Por isto, o
autor de hoje prefere comumente, o emprego de como, evitando assim,
qualquer crítica. Tais os exemplos:
"Ele caiu que nem uma pedra".
"Ele caiu como uma pedra".
De maneira que
Comum
é ouvirmos o substantivo dessa locução conjuntiva consecutiva
pluralizado. Sendo, como é, parte intrínseca duma locução pertencente ao
rol das invariáveis, constitui a sua flexão descuido ao vernáculo.
No mesmo caso encontram-se de sorte que, de forma que, de jeito que, de modo que.
Eis que
É eis que locução adverbial equivalente à designação do qual está próximo no tempo, do que está perto ou presente:
"Eis que chega o professor e todos se levantam".
"Eis que, desconsiderando um outro, viram-lhes, todos, o rosto".
Até que
Quando
ligar orações é conj. sub. temporal (ex.: ("trabalhou até que sua força
permitiu"); no início de frases deve ser considerada esta locução como
de realce, isto é, explicativa (ex.: "Até que ele canta bem").
Como que
Locução adverbial de modo. É o mesmo que incomparavelmente", de modo incomparável":
"Era fino como que". (Cor. Pires).
Quem quer que
É considerada pronome substantivo indefinido. Há de se notar, contudo, que o relativo que, empregado nessa construção, não perde seu valor, equivalendo, pois, quem quer a qualquer pessoa. Exemplos:
"Quem quer que tenha viajado pode contar muitas coisas". (Paulo Ronai).
"Com seu semblante de profeta e sua aparência de mendigo, conquistava a misericórdia de quem quer que fosse. (Perea Martins).
Como quer que seja
Das
mais interessantes é o estudo desta frase. Ensina-se que seu
significado é de dúvida ou incerteza. Como será sua análise sintática e
sua forma plena? Consideramo-la desta maneira:
" O serviço (p.
ex.) será feito como quer Pedro (p. ex.) que seja". Isto é: "O serviço
será feito (por alguém) como quer Pedro que (o serviço) seja (feito por
alguém)". Que é conjunção subordinativa integrante; como quer, oração subordinada conformativa; que seja, oração subordinada substantiva objetiva direta.
Onde quer que esteja
Quase idêntico ao estudo anterior é o desta frase: que é conjunção subordinativa integrante; o sujeito de quer é indeterminado; que esteja é oração subordinada substantiva objetiva direta. Plenamente, podemos ter a seguinte disposição:
"Eu lhe direi isto onde quer (Pedro, Paulo, etc.) que esteja (ele)".
Em que pese a
É locução vernácula. Em que equivale a ainda que. Tal o exemplo:
"Em
que se pese a você, far-lhe-emos nosso relatório". É o mesmo que -
"Ainda que isso pese a você, far-lhe-emos nosso relatório.
Dar que falar
Equivale a: despertar ou censurar.
Que também
É locução conjuncional equivalente a "mas também".
Do que
Locução comparativa. Assim como a conjunção comparativa - que -
entra ela nas frases de comparação para mais ou para menos. Tanto
podemos dizer: "Você mora mais longe do que eu" ou "Você mora mais longe
que eu", ou ainda - "Sou menos estudioso que você". Ou "Sou menos
estudioso do que você".
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