sábado, 30 de agosto de 2014

RECURSOS MORFOLÓGICOS, SINTÁTICO E SEMÂNTICO

      Segundo o Gramático Pasquale Cipro Neto, a poesia, principalmente, explora esses e outros recursos sonoros da linguagem. O estudo dos ritmos e dos padrões métricos da linguagem poética foge ao âmbito dos estudos gramaticais. Para conhecê-los, devem-se procurar as obras especializadas e principalmente os bons poemas da língua portuguesa.
1) RECURSOS MORFOLÓGICOS
       Os casos mais comuns de exploração expressiva de recursos morfológicos estão relacionados com o uso de determinados sufixos. E muito freqüênte o emprego dos sufixos aumentativos e diminutivos para exprimir conteúdos afetivos nem sempre relacionados com a dimensão física dos seres. É o caso de palavras como mulherão ou coitadinho, que fazem referência respectivamente à beleza e às características psicológicas dos seres designados. Tratamos desses e de outros casos quando estudamos a estrutura e a formação das palavras.
2) RECURSO SINTÁTICO

        A Sintaxe é uma fonte inesgotável de recursos expressivos. Algumas formas de obter efeitos sutis de significação:
a) o assíndeto, ou coordenação de termos ou orações sem utilização de conectivo. Esse recurso costuma imprimir lentidão ao ritmo narrativo:

                            "Foi apanha; gravetos, trouxe do chiqueiro das cabras uma braçada de madeira meio ruida pelo cupim, arrancou touceiras de macambira, arrumou tudo para a fogueira."
                                                                                                      (Graciliano Ramos)
b) o polissíndeto, ou repetição do conectivo na coordenação de termos ou orações. Esse recurso costuma acelerar o ritmo narrativo:

                                       "O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora."
                                                                                                      (Machado de Assis)
c) a inversão da ordem normal dos termos da oração ou da frase. O termo deslocado de sua posição normal recebe forte ênfase. A inversão não é privilégio da linguagem literária, ocorrendo no uso cotidiano da linguagem:
                                         "Das minhas coisas cuido eu! Professor já não sou."
d) a repetição de termos ou de estruturas sintáticas (chamada esta última de anáfora). É um recurso de ênfase e coesão, de que falamos em vários momentos de nossos estudos.
e) o anacoluto, ou ruptura da ordem lógica da frase. É um recurso muito utilizado nos diálogos, que procuram reproduzir na escrita a língua falada. Também permite a caracterização de estados de confusão mental:

                       "Deixe-me ver... E necessário começar por... Não, não, o melhor é tentar novamente o que foi feito ontem."
f) a silepse ou concordância ideológica, estudada no capítulo dedicado à concordância verbal e nominal.
3) RECURSOS SEMÂNTICOS
          A exploração dos significados das palavras gera duas figuras principais: a metáfora e a metonímia. A metáfora ocorre quando uma palavra passa a designar alguma coisa com a qual não mantém nenhuma relação objetiva. Na base de toda metáfora está um processo comparativo. 
Observe: Senti a seda do seu rosto em meus dedos. Seda, na frase acima, é uma metáfora. Por trás do uso dessa palavra para indicar uma pele extremamente agradável ao tato, há várias operações de comparação: a pele descrita é tão agradável ao tato quanto a seda; a pele descrita é uma verdadeira seda; a pele descrita pode ser chamada seda.
            A metonímia ocorre quando uma palavra é usada para designar alguma coisa com a qual mantém uma relação de proximidade ou posse. Observe:
                     
                              "Meus olhos estão tristes por que você decidiu partir."
Olhos, na frase acima, é uma metonímia. Na verdade, essa palavra, que indica uma parte do ser humano, esta sendo usada para designar o ser humano completo.
- nota da ledora: propaganda do Jornal Notícias Populares. Foto: parece um jogo de futebol, onde a platéia é fotografada. Texto: Não ( em letras garrafais ), alimente os animais. Chega de violência no futebol.
- fim da nota.
O alambrado lembra as grades de uma jaula; a fisionomia dos torcedores expressa agitação ou fúria. Os recursos visuais se conjugam aos verbais para produzir esta metáfora, em que seres humanos são equiparados a animais.
- nota da ledora: propaganda de macarrão: na foto, a massa em forma de macarrão tem as cores da bandeira da Itália. ( verde, vermelho e amarelo)
- fim da nota.
Metonímia: o macarrão (parte) pela Itália (todo). Para não haver dúvida, o macarrão tem as cores da bandeira italiana.
Outras formas de explorar significados de maneira expressiva são:
a) a antítese, ou aproximação de antônimos. Releia o texto "O quereres", do capítulo anterior, para observar como esse recurso pode ser explorado à exaustão.
b) o eufemismo, ou atenuamento intencional da expressão em certas situações: Falta-lhe inteligência para compreender isso.
c) a hipérbole, ou exagero intencional da expressão: Faria isso mil vezes se fosse preciso.
d) a ironia, que consiste em, aproveitando-se do contexto, utilizar palavras que devem ser compreendidas no sentido oposto do que aparentam transmitir. É um poderoso instrumento para o sarcasmo:
Muito competente aquele candidato!
Construiu viadutos que ligam nenhum lugar a lugar algum.
e) a gradação, que consiste em encadear palavras cujos significados têm efeito cumulativo:
Os grandes projetos de colonização resultaram em pilhas de papéis velhos, restos de obras inacabadas, hectares de floresta devastada, milhares de famílias abandonadas à própria sorte.
f) a prosopopéia ou personificação, que consiste em atribuir características de seres animados a seres inanimados ou características humanas a seres não-humanos: A floresta gesticulava nervosamente diante do lago que a devorava. O ipê acenava-lhe brandamente, chamando-o para casa.

Nenhum comentário :